PARA M.

Já faz muito tempo desde o nosso último encontro.

Já faz muito tempo desde a nossa última conversa.

Tanto tempo que até parece uma década.

Por isso, você virou uma daquelas fotografias antigas, aquelas que guardamos, por apego, mas que já estão bem apagadinhas, restando apenas uma sombra.

Sombra do que um dia existiu e um dia acabou.

Não lembro mais de suas feições, de sua voz e nem do seu cheiro.

Não lembro mais de suas manias e nem do que gosta.

Não lembro mais do nome do lugar aonde mora e nem do nome do seu cachorro.

Notícias eram muito escassas, quase não existiam. Não sabia se estava vivo ou morto, gordo ou magro ou se continuava fumando.

Então, inesperadamente, tenho uma... uma que eu não esperava!

Preferia ouvir tantas outras coisas. Que estava bebendo demais, que andava na gandaia ou até que mudaria para bem longe daqui.

Mas, não foi assim, né!

Foi um choque, um susto; acho que fiquei fora do ar por alguns segundos.

Senti um estalo e, de repente, comecei a lembrar de tudo que já havia esquecido.

Lembrei do seu cheiro de Kouros, do nome do cachorro, das noites sentada na varanda, no friozinho da manhã e da estrada entre as montanhas.

E lembrei de nossa última conversa - você de bermuda (que te dei de presente) e com aquela camiseta bege (que eu roubei de você para ficar sentindo seu cheiro quando estava viajando e devolvi quando voltou porque o perfume tinha saído) – que você me disse: “... tudo que está acontecendo é culpa sua, você não me deu valor e está perdendo sua última chance de ser feliz. Eu vou reconstruir a minha vida, ter uma nova família e você acabará sozinha!”

E hoje estou com medo, com muito medo que você tenha conseguido selar meu destino com suas palavras finais.

Uma parte disto já se realizou, né!

E todos os meus “porquês” retornaram.

Será que eu fui mesmo a culpada? Que a imaturidade foi minha? Por que meu Deus, tinha que ser assim?

A única resposta que encontrei foi: “É porque tinha que ser assim!”

Com você descobri o lado “B” de um relacionamento: o que não fazer, o que não permitir, o que não dizer.

Por você conheci um grande sofrimento e uma intensa dor.

Sem você encontrei um novo caminho, novas paixões e encontrei a Psicologia ( o meu grande amor, atualmente).

Nos separarmos foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para ambos, caso contrário viveríamos num constante jogo de Tênis, onde um quer ser melhor que o outro, onde um quer sempre derrotar o outro.

Hoje sei que não houve um culpado. Fomos nós que no meio do caminho nos perdemos, só isso... apenas isso.

Não sei se um dia minhas palavras chegarão até você, acho que não.

Mas, mesmo que nunca as leia, para mim é muito importante dizê-las porque esta é a forma que encontrei para, enfim, me libertar.

Seja feliz, você merece!

Eu também serei, porque também mereço!

Adeus!